Aplicação de MÁSCARA de NITIDEZ


Falar de aplicação de nitidez, o famoso ‘Unsharp Mask’, é uma ação que sempre vem acompanhada do risco de tocar em tabus e suscetibilidades. Isto acontece por uma série de fatos que são inerentes ao funcionamento da aplicação de nitidez na fotografia digital:
  • Alguns puristas consideram a aplicação de nitidez uma espécie de heresia por ignorarem dois fatores. Primeiro, a aplicação de nitidez não é um processo novo, característico da fotografia digital, e sim uma técnica que data da fotografia em película e da sala escura, e segundo, atributos inerentes da fotografia digital exigem a aplicação de nitidez;
  • A aplicação do filtros do tipo ‘Unsharp Mask’ é altamente destrutiva. Isto é, uma vez aplicada em uma fotografia, qualquer ação subsequente tende exagerar os efeitos (e defeitos, chamados de artefatos) causados pelo filtro. Por causa disto, muitas pessoas acreditam que a aplicação de nitidez deve sempre ser o último passo no fluxo de tratamento de imagem;
  • Embora a aplicação de nitidez seja importante também para visualização de imagens em tela, ela normalmente é discutida em fluxos de trabalho que envolvem impressão. Quando se trata a imagem em tela para impressão, a relação do que se vê na tela é muito distante daquilo que será impresso;
  • Você nunca deve depender apenas do computador para obter a melhor nitidez em suas fotos. O computador ajuda, mas a nitidez da sua foto vai depender da qualidade de suas objetivas, firmeza de sua mão, configuração de abertura, velocidade e sensibilidade de sua câmera, e até mesmo do bom e velho tripé.
Diferentemente do que muita gente imagina, a ‘magia digital’ executada por filtros de aplicação de nitidez em softwares de tratamento de imagem nada mais é que uma simulação de um efeito concebido em sala escura. Sem entrar nas especificidades do efeito, que envolvia sobreposição de negativos, desfoque e tudo mais, a aplicação de nitidez padrão, conhecida como “máscara de desfoque”, aumenta o contraste nas regiões de bordas da fotografia, regiões estas causadas por diferenças de contraste previamente existentes na imagem. Este aumento de contraste, quando aplicado com sensatez e critério, torna-se imperceptível, servindo apenas para aumentar a sensação de nitidez da imagem. Quando aplicado com exagero, gera auras e artefatos visíveis que podem estragar uma imagem além da salvação.
Na figura abaixo você pode ver 3 imagens na primeira fileira. A primeira imagem está sem aplicação de nitidez, a segunda recebeu uma aplicação sutil do efeito, e a terceira uma aplicação bastante exagerada.
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Na fileira de baixo vemos uma ampliação em detalhe da segunda e terceira imagem. Na imagem da esquerda, vemos na palavra ‘zero’ a sutil borda mais escura gerada pela aplicação de nitidez. É exatamente era ‘borda’ que, quase imperceptível à distância, causa a ilusão da nitidez. Na imagem da direita vemos como a aplicação exagerada gerou bordas extremamente grossas, inclusive na marca da Coca-Cola, que são visíveis na imagem menos. Este efeito visível causa distorções nas cores e a geração de artefatos que estragam a imagem.
Agora que temos uma ideia bem básica de como a aplicação de nitidez funciona , temos de compreender onde a nitidez entra em nosso fluxo de trabalho. Como falei no início do artigo, muita gente acredita que a aplicação de nitidez deve ser sempre o último passo no fluxo de tratamento de imagem. Veremos agora que não é sempre assim.
Dois estudiosos da aplicação digital de nitidez, Bruce Fraser e Jeff Schewe, defendem a divisão do processo de aumento de nitidez em imagem digital em três estágios. Aplicação de nitidez de entrada, aplicação criativa de nitidez e aplicação de nitidez de saída. Destes estágios, falaremos de dois hoje, e deixaremos a aplicação criativa de nitidez para um próximo artigo. 
O objetivo deste artigo é abrir a discussão sobre este sistema de aplicação de três etapas e explicar o papel destas três etapas no fluxo de trabalho. 

Nitidez de Entrada
Se você conhece intimamente sua câmera digital, deve ter ouvido falar em filtro anti-aliasing (ou filtro AA). O filtro AA é uma fina película de desfoque que fica sobre o sensor e serve para desfocar sutilmente a imagem antes de ela ser capturada pelo sensor. Se você removesse este filtro, as imagens de sua câmera ficariam serrilhadas, com todas as linhas que não fossem perfeitamente horizontais ou verticais aparecendo como ‘escadinhas’. Por causa deste filtro, toda imagem digital exige aplicação de nitidez posterior à captura.
Este efeito é perceptível especialmente quando se passa da fotografia em JPEG para a fotografia em RAW. Por padrão, toda câmera aplica um aumento de nitidez quando a imagem é convertida de RAW (os dados obtidos pelo sensor) para JPEG, mesmo que a configuração de nitidez da câmera esteja em zero. Como no arquivo RAW esta aplicação de nitidez não acontece, é normal que os fotógrafos, ao enveredarem pelo rumo do RAW, fiquem com a sensação de que suas fotos estejam menos nítidas do que estavam quando fotografava em JPEG. Na verdade, elas estão mesmo.
Como visto anteriormente, a aplicação de nitidez causa artefatos que podem ser exagerados durante o tratamento posterior da imagem. Embora a foto que sai em JPEG da câmera seja visivelmente mais nítida, ela prejudica o tratamento de imagem posterior, enquanto a foto em RAW permite que o aumento de nitidez seja aplicado sem prejudicar a qualidade do tratamento. 
Chamamos de nitidez de entrada a aplicação de nitidez inicial na imagem, aplicação esta que visa reduzir os efeitos do filtro AA e destacar as qualidades da foto. Esta aplicação de nitidez deve ser sutil, estar de acordo com o conteúdo da imagem (uma foto de um bebê exige um tratamento de nitidez daquele aplicado a uma foto de edifícios) e de preferência ser não destrutivo. 
  • Está relacionada ao conteúdo da imagem. Imagens de baixa frequência (poucos detalhes) recebem aplicações de nitidez com parâmetros diferentes daquelas com alta frequência (muitos detalhes). Imagens com bordas suaves (como retratos) recebem configurações diferentes de imagens com bordas duras (prédios).
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  • Na maioria dos softwares, deve acontecer no início do processo de tratamento, de modo que outros recursos não sejam equivocadamente utilizados para aumentar a nitidez (contraste, saturação e etc).
  • No caso do Lightroom, devido a sua natureza não-destrutiva, pode ser trabalhada durante qualquer momento do processo. É provável que durante o tratamento você vá ao painel DETAIL mais de uma vez, para ajustá-lo conforme as alterações em outros fatores venham a alterar a nitidez.
  • Visa tornar a imagem nítida e agradável à visão no monitor bem calibrado, e sem gerar artefatos que possam ser exagerados durante o tratamento.
  • Embora os artigos seguintes venham a se dedicar exclusivamente à fotografia digital , a nitidez de entrada também deve levar em consideração a mídia utilizada. Configurações e procedimentos diferentes são utilizados para imagens vindas de câmeras digitais, scanner de material fotográfico, slide, negativo ou impressão com retícula.

Aplicação Criativa de Nitidez

A aplicação criativa de nitidez é uma etapa opcional do processo, e embora ela aconteça entre a etapa de entrada e a etapa de saída, ela será nosso quarto artigo sobre nitidez. A aplicação criativa de nitidez visa aumentar e reduzir a nitidez de áreas específicas da imagem, destacando-as. O tipo mais comum de aplicação criativa de nitidez acontece em retratos, na suavização da pele e aumento da nitidez em área como os lábios, olhos e cabelo.
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  • Diferente da aplicação de entrada e de saída, a aplicação criativa é feita de modo seletivo na imagem, afetando apenas áreas específicas.
  • Sutil e quase imperceptível, a aplicação criativa de nitidez normalmente provoca mais a ‘sensação’ do que realmente uma percepção visual da nitidez. Exageros podem criar fotos visualmente manipuladas.
  • Ajuda a similar ou enfatizar efeitos fotográficos, como bokeh ou foco seletivo.

    Nitidez de Saída

    A nitidez de saída é o último passo no tratamento da imagem. O objetivo dela é preparar a imagem para a mídia na qual ela será utilizada: impressão jato de tinta, impressão fotográfica, tela de computador e etc. É uma das partes mais complexas da aplicação de nitidez, pois você trabalha na tela com o objetivo de ‘visualizar’ a aplicação em outra mídia,
  • É dependente da mídia final. Configurações diferentes atendem diferentes mídias: papel fotográfico brilhante, papel fotográfico fosco, impressão jato de tinta, tela de computador, cada um exige uma configuração diferente.
  • É dependente do tamanho final da imagem. Deve sempre ser executada na imagem no tamanho final em que ela será utilizada. Se a imagem for ampliada após a aplicação, auras e artefatos podem ficar visíveis e a imagem borrada. Se a imagem for reduzida após a aplicação, o efeito da aplicação pode simplesmente desaparecer.
  • Independe do conteúdo da imagem. Independentemente da imagem em questão, a mesma configuração pode ser utilizada para qualquer imagem que tenha recebido a aplicação correta de nitidez de entrada e que tenha o mesmo destino de saída. Ex.: se você executou corretamente a aplicação de nitidez de entrada (e/ou nitidez criativa), e o destino da imagem será impressão fotográfica, a mesma configuração e processo vale para um retrato ou uma paisagem urbana.
  • Pode ser automatizada. Através de ACTIONS no Photoshop, ou através do painel EXPORTAR no Adobe Lightroom.
  • Quando o objetivo é a mídia impressa, o resultado que lhe dará uma boa nitidez de impressão sempre parecerá exageradamente nítido quando visto em 100% de zoom na tela do computador.
Este último passo é o mais técnica e mais simples de ser aplicado no Lightroom. Com base na mídia que você escolher (impressão fosca, brilho ou tela) e no tamanho da imagem (definido também na janela de exportação), o Lightroom fará os cálculos e aplicará a nitidez necessária para um bom resultado.


ADAPTAÇÃO de um artigo publicado em Lightroom Brasil

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